Prosperidade em 2010 levou o país ao maior deficit nas contas externas
O Brasil cresceu além da sua capacidade em 2010 e toda essa pujança cobrou um preço elevado: US$ 47,5 bilhões, o maior rombo nas contas externas em 63 anos, desde que o Banco Central passou a fazer esse levantamento. A cifra recorde reflete o quanto o país pagou aos estrangeiros no ano passado em troca de serviços financeiros, transporte de cargas, aluguel de equipamentos e turismo — despesas que ajudaram a garantir um Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) próximo dos 8%, de acordo com projeções de analistas. Um buraco desse tamanho evidencia ainda um Brasil dependente de outras nações para se desenvolver e exposto às oscilações econômicas e crises internacionais.
O resultado do ano passado é praticamente o dobro do registrado em 2009, quando o rombo nas contas externas havia alcançado os US$ 24,3 bilhões. A piora foi impulsionada pelo forte crescimento do setor produtivo nacional, que necessitou alugar gruas para a construção civil e maquinário para a indústria — despesas que deixaram um saldo negativo de US$ 13,6 bilhões em aluguéis.
Transporte de cargas também teve forte impacto no desempenho de 2010, ampliando o buraco em US$ 6,4 bilhões — volume recorde para esse segmento. “Isso ocorreu em função da deficiência de embarcações de longo curso no Brasil”, explicou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC. Como o país não tem frota suficiente para realizar o transporte das exportações, precisa alugar navios de outras nações para garantir o envio dos produtos brasileiros.
Necessidade
Na avaliação do banco espanhol Santander, as condições internacionais seguem favorecendo a “exuberância do consumo”, e o país seguirá importando poupança (investimentos estrangeiros) e consumindo mais do que produz por um bom tempo. Armando Castellar, professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), pondera que o Brasil não tem condições de ampliar sua produção de maneira a atender todas as necessidades dos consumidores e do setor produtivo e que, por isso, a tendência é de que o deficit nas contas externas continue a avançar nos próximos anos.
“Estamos em um processo de aumento constante da demanda e esse consumo acaba sendo direcionado, em parte, para o exterior, já que o país não consegue atendê-lo plenamente”, explicou Castellar. “Demanda essa que é atendida com importações de bens e mercadorias ou serviços”, emendou. O professor argumenta ainda que o rombo nas transações correntes favorece a valorização do dólar, traz importações para o país e acaba por influenciar os preços da economia. Em uma crise internacional, o Brasil ficaria exposto às dificuldades e aos problemas enfrentados pelos países dos quais depende. Teria também uma margem menor para manobras mais fortes, caso necessário, “para colocar o barco novamente no rumo certo”, opinou o economista.
Apesar de preocupante, o estrago nas contas externas ainda não é, para parte dos economistas, alarmante, exatamente por conta do volume de investimentos estrangeiros que chega tanto para o setor produtivo quanto para as aplicações em renda fixa e ações. “O volume desses recursos é suficiente para financiar o deficit”, garantiu Lopes. Apenas em 2010, ingressaram no país US$ 99,6 bilhões pela via financeira e em aplicações no setor produtivo. A relação entre o rombo e o PIB também é moderada. Hoje, representa 2,28% do produto interno. “O problema é que ela tem crescido. Mas, nesse tamanho, ainda não chega a incomodar”, admitiu Castellar.
Gestão Lula supera FHC
A despeito de 2010 ter registrado o pior rombo externo desde 1947, o balanço nessas contas no governo Luís Inácio Lula da Silva foi positivo. Diante da gestão de Fernando Henrique Cardoso, o deficit nas transações correntes acumulado nos últimos oito anos foi sensivelmente menor e o ingresso de recursos estrangeiros para o setor produtivo ocorreu em escala maior.
Dados do BC mostram que a administração FHC acumulou um deficit de US$ 185,9 bilhões. A de Lula, US$ 55,2 bilhões. A conjuntura econômica, porém, era diferente. O Brasil ainda enfrentava a inflação e buscava a estabilidade econômica. O parque industrial brasileiro era defasado e fazia-se necessário buscar no exterior os insumos necessários para que o país não estagnasse.
O ingresso de investimento estrangeiro direto — que vai para produção — também melhorou. Os dois mandatos de Lula registraram 32% mais recursos que a era tucana. Foram US$ 215,8 bilhões entre 2003 e 2010 contra US$ 162, 9 bilhões de 1995 a 2002. O cenário internacional também beneficiou Lula. Com a crise de 2008 e a alta liquidez dos mercados internacionais — e os Estados Unidos inundando o mundo com dólares —, todos esses recursos migraram para os países emergentes – que superaram melhor as turbulências.
*Fonte:http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=70747
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