domingo, 16 de janeiro de 2011

CAMINHOS POR ONDE ANDEI * VIEGAS

LAVRADORES DO MEU BRASIL!!! 

Ainda me lembro que havia um tempo em que a palavra LAVRADOR soava pesado! Suado! Era um termo pejorativo em meio às gentes da cidade. LAVRADOR era ROCEIRO, pé no chão, analfabeto, trabalhador de sol a sol - um “pé rapado” (como diziam). Lavrador, então, era um escravo livre em seus próprios eitos e coivaras e serviço bruto. Foi, no final dos anos 60, que se institui no Brasil, uma aposentadoria (de meio salário) para velhinhos e velhinhas, lavradores de verdade. Era o tempo do FUNRURAL. O FUNRURAL foi uma moita de pobreza e velhice - daqueles escravos-lavradores livre de pé rapado, ganhando  uma aposentadoriazinha “na folhinha” (no carnê), como se dizia.

Os tempos mudaram, lavradores aposentados passaram a ganhar salário inteiro; ganha o marido, ganha a mulher – o viúvo ou a viúva recebe pelos dois. Cinquenta e cinco anos para a mulher; sessenta anos para o homem. E o que se vê Brasil afora é uma “quêra” de lavradores aposentados, homens, mulheres, viúvas e outras que estão na primeira barrigada dos filhos, mas já  deram um jeito – um jeitinho – e já estão aposentadas. O Brasil hoje é a pátria de lavradores. Lavradores que estão aposentados, lavradores de araque de olho na aposentadoria, lavradores só de papel, lavradores de coisa nenhuma, lavradores de Sindicatos (e carteirinha), lavradores de mentira, lavradores de mentirinha... E as roças? Cadê as roças? E o arroz, a mandioca, o feijão? Cadê???

- Os lavradores de verdade, estes basicamente acabaram, envelheceram, morreram, enferrujaram, não puderam ou não podem mais trabalhar. E os que hoje se dizem lavradores? Grande-maior parte dessa raça não sabe sequer onde fica o caminha da roça ou uma porteira-de-roça; nunca arrancaram uma unha no toco; não sabem o que é uma casa de farinha; tampouco o que é  um corte de arroz.

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Faz dias eu vi na Justiça uma jovem mulher: loura, bonitona, sapato alto, vinda do cabeleireiro, nos trinques. Quando lhe perguntaram sua profissão, ela declarou, na lata: LAVRADORA!!! Eu fiquei olhando... Instante depois, uma outra: uma jovem da periferia, já pariu dois filhos, cara de quenga da beira. E quando lhe perguntaram a profissão, quase escondendo o rosto ela respondeu:LAVRADORA!!!! São esses – quase todos desses – os lavradores que hoje temos no Brasil. Só na tinta, no papel, no gogó; de olho na aposentadoria. São esses, muitos desses os... LAVRADORES DO MEU BRASIL...

 *Viegas é advogado e questiona o social – email: viegas.adv@ig.com.br

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