sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Brasil registrou queda de 74% nos casos de dengue no mês de janeiro deste ano

Brasil registrou queda de 74% nos casos de dengue no mês de janeiro deste ano


Depois de passar, em 2010, por uma das maiores epidemias de dengue dos últimos dez anos — o Ministério da Saúde estima que 1 milhão de pessoas tenham sido contaminadas entre janeiro e dezembro —, o número de casos da doença no Brasil caiu 74% no primeiro mês do ano. Segundo levantamento preliminar do ministério, foram registrados 26.034 casos em janeiro, menos de um terço dos 98.373 ocorridos no mesmo período do ano passado. No Distrito Federal, que em fevereiro passado declarou epidemia da doença, os registros também apontam queda. Dados divulgados pela Secretaria de Saúde do DF mostram que o índice de 2011 é 64% menor — o número caiu de 692, no ano passado, para 246.

Os números positivos podem passar a impressão de que a doença está controlada, mas não devem ser suficientes para tranquilizar a população. O país ainda tem 16 estados em alerta para o risco de epidemia por terem índice de transmissão muito alto — a capital do Acre, Rio Branco, já fala em situação de epidemia. Após a má experiência do ano passado, os governos federal, estaduais e municipais se preparam para evitar o avanço da doença entre fevereiro e março, época do ano em que geralmente há mais contaminações. “Não vamos esperar a epidemia chegar. Este ano nós começamos as ações em janeiro”, diz o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.

Em Itapoã — cidade a 30km de Brasília —, a situação encontrada nas ruas e terrenos abandonados está longe do recomendado para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, responsável pela transmissão da dengue. Pneus, baldes e entulho podem ser vistos em praticamente todas as calçadas das casas. A cidade concentrou 15% das ocorrências do DF nos dois primeiros meses de 2010, com famílias inteiras contaminadas. Este ano, no entanto, Itapoã não registrou casos da doença, segundo a Secretaria de Saúde.

O morador da cidade Geraldo Max Sousa, 40 anos, ficou internado por uma semana no Hospital Regional do Paranoá no início do ano passado. Quando ele e o filho de 14 anos adoeceram, a família morava em outra rua de Itapoã, em que vizinhos também foram contaminados. Passar pelos sintomas nada agradáveis da doença o fez ficar mais atento a possíveis focos. “Eu tento manter as coisas mais limpas, não deixar a água acumular”, conta o pedreiro, que acredita ter sido picado por mosquitos cultivados em caixas de gordura que não tinham tampa. “A gente vê essas coisas na televisão mas nunca acha que vão acontecer em casa. Agora eu sei que até uma tampinha de cerveja pode trazer a dengue”, diz Geraldo.

Uma reunião foi realizada em Itapoã ontem à tarde, segundo o coordenador de Prevenção e Controle da Dengue no DF, Ailton Domício, para definir estratégias de combate na cidade. “No sábado, vamos reiniciar o manejo ambiental, recolhimento de lixo e conscientização dos moradores. Tratamentos com produtos químicos começaram hoje e continuam no decorrer da semana”, afirma Domício.

O Distrito Federal sofre com a falta de profissionais de Vigilância Ambiental. Hoje há apenas 500 fiscais para visitar todas as cidades, quando o ideal para uma cidade com mais de 2,4 milhões de habitantes, de acordo com o recomendado pelo Ministério da Saúde, seriam pelo menos 1,2 mil. A Secretaria de Saúde recebe, desde o mês passado, o reforço de 50 militares da Marinha e da Aeronáutica, mas ainda aguarda apoio de 450 homens solicitados às Forças Armadas, além da liberação de um concurso público para contratar agentes. “Fizemos o trabalho de prevenção entre setembro e dezembro do ano passado, para ter condições mínimas de chegar aqui em uma posição mais confortável. A determinação é intensificar essas ações a partir de agora para conseguir manter o controle durante o ano”, explica o coordenador.

Celular

A partir de hoje, usuários de celular de todo o país passarão a receber dicas para se prevenir da dengue por mensagens SMS. Os torpedos serão enviados semanalmente, quando o Ministério da Saúde fecha o balanço de notificações, a municípios que registrarem alto índice de transmissão ou muitos casos graves. Propagandas na TV e no rádio e um site para tirar dúvidas também estão entre as ações de prevenção, resultado de um investimento de R$ 40 milhões do Ministério. O governo fez também parcerias com lideranças sindicais, religiosas e empresas, para evitar que o país perca novamente o controle da doença. “O ministro está visitando cada um dos 16 estados em risco, fazendo reuniões e analisando as estratégias”, diz o secretário Jarbas Barbosa.

Com jeito de gripe

A prioridade das campanhas contra a dengue este ano é fazer as pessoas entenderem a importância das ações para evitar o aparecimento de qualquer foco do Aedes aegypti. O descuido de vizinhos pode ter sido a causa dos maus momentos passados por Patrícia Mendonça, 21 anos. A estudante de biomedicina teve de enfrentar os sintomas da dengue em meados de janeiro. Com febre alta e muitas dores no corpo, ela procurou o médico, que inicialmente pensou ser uma gripe forte, mas pediu exames mais detalhados para diagnosticar a doença corretamente. Apesar de morar em um apartamento, ela acredita que tenha sido picada pelo mosquito no próprio prédio. “Alguns vizinhos têm vasos de plantas que podem ter facilitado o aparecimento do mosquito”, analisa a estudante.

O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, lembra que boa parte da população não tem o compromisso de reiniciar as ações de prevenção todos os anos, principalmente na época de chuvas, período favorável para proliferação de larvas. “A maioria já sabe o que fazer, mas acaba não tomando os devidos cuidados porque acha que o vizinho não contribui. Queremos desenvolver a cultura da mobilização contra o mosquito”, afirma. (AES)

Alvos da campanha

Uma portaria do Ministério da Saúde obriga, desde o fim de janeiro, estados e municípios a enviarem em até 24 horas notificações sobre casos graves e mortes suspeitas por dengue. Devem ser registrados diariamente, também, os casos da dengue tipo 4 (DENV 4). A atenção é reforçada em relação ao DENV 4 para evitar uma possível epidemia. “Uma vez que uma pessoa pega dengue, ela fica imune para o tipo de vírus que a contaminou. Como o tipo 4 nunca circulou no Brasil de forma ampla, ninguém está protegido”, explica a infectologista Valéria Paes Lima.

Crianças e adolescentes também são foco nas campanhas devido ao tipo 1 da doença, que segundo Jarbas Barbosa, volta a provocar a dengue no Brasil após 15 anos de aparições esporádicas. “Quem é mais novo está sujeito ao vírus, aumentam as chances de que os casos se tornem graves e resultem em mortes”, diz o secretário de Vigilância em Saúde.

Não há como identificar a diferença entre os dois tipos de dengue sem fazer exames laboratoriais. O recomendado pelos médicos é procurar um hospital assim que começarem os sintomas, até mesmo se a pessoa já tiver sido contaminada uma vez. “Quando alguém pega dengue pela segunda vez, a doença vem mais forte e crescem as chances de evolução para o quadro hemorrágico”, alerta a infectologista.



*Fonte: http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=71514

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