O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, afirmou em entrevista coletiva no final da manhã desta sexta-feira (11), na sede da Polícia Federal (PF), na zona portuária do Rio, que a corrupção policial no Estado é problema "antigo e sério" e que o combate a milícias "vai continuar". Até as 15h45, 65 mandados de busca e apreensão já haviam sido cumpridos, e 30 pessoas tinham sido presas, sendo 24 policiais (17 militares e sete civis, além de seis pessoas que seriam informantes de criminosos) durante a Operação Guilhotina, deflagrada hoje de madrugada por agentes da Polícia Federal e do Ministério Público (MP). Para a PF, a operação pode se estender ainda por mais dez dias.
O superintendente da PF do Rio, Ângelo Gioia, afirmou que as operações no morro do Alemão, no ano passado, forneceram elementos à megaoperação de hoje. "Houve envolvimento efetivo dos presos, na condição de policiais, com traficantes --e muito disso relacionado ao espólio de guerra. A movimentação no Alemão também ajudou, sim, nas investigações. O volume de apreensões lá foi muito grande e houve desvios, muito sobrou e eles (policiais agora com mandado de prisão preventiva, ou já presos) revenderam. Muito foi apreendido e imediatamente subtraído", declarou.
De acordo com Beltrame, "as milícias estão sendo combatidas, e continuarão sendo. Acho que isso pode não ser bom para a instituição num primeiro momento, mas nós não estamos aqui para dizer o que é bom ou ruim, estamos para mostrar resultado para a população. Acho também que os policiais de bem não estão sozinhos”.
Beltrame admitiu, aliás, que os problemas na própria instituição são o passo seguinte da segurança pública no Estado no combate à violência. “Primeiro, tínhamos UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), regime de metas, enfim, era preciso mostrar à sociedade que tínhamos um plano de segurança. Agora os desafios são outros, outras frentes terão que ser atacadas. E pode ter certeza que assuntos internos é uma delas”.
As declarações do secretário foram dadas instantes depois de a Secretaria Especial de Ordem Pública do Rio de Janeiro anunciar a exoneração do delegado Carlos Antoni Luiz de Oliveira, ex-subchefe de Polícia Civil no Estado. Oliveira é um dos investigados e já é considerado foragido.
Atualmente subsecretário de operações da Secretaria Especial, Oliveira é suspeito de fornecer informações de operações policiais a criminosos, um dos argumentos da operação. Policiais estiveram na casa do oficial de manhã, no bairro de Campo Grande, com mandado de prisão, mas ele não foi localizado.
Já o chefe da Polícia Civil do Rio, Alan Turnowski, está sendo ouvido na sede da PF --ele foi chamado para prestar esclarecimentos sobre as investigações. Conforme a secretaria de Segurança Pública do Estado, Turnowski pode auxiliar os trabalhos da operação.
Sobre o chefe da Civil, Beltrame afirmou: “Ele goza da minha confiança, está sendo ouvido como chefe e daqui para a frente, com base no que for efetivamente coletado, vamos aguardar. Não vou fazer juízo de valor precipitado, esse tipo de hipocrisia --vamos analisar e tomar a decisão no momento oportuno”. Sobre Oliveira, disse: "Há lastro de provas contra ele, já o chefe da Civil está sendo ouvido ainda como testemunha", reforçou.
Ao todo, há 45 mandados de prisão preventiva para serem cumpridos --32 deles contra policiais civis (11, dos quais cinco são inspetores) e militares (21, um deles, do Batalhão de Campanha instalado no Alemão), além de 65 mandados de busca e apreensão.
Duas delegacias foram revistadas e interditadas de manhã pelos agentes da Guilhotina, a da Penha e a de São Cristóvão. Na da Penha foi encontrada uma caixa de munição, e a delegada Márcia Becker foi levada à PF para prestar esclarecimentos. A delegada era a chefe do local nas ações da polícia carioca na Vila Cruzeiro e no morro do Alemão, em novembro de 2010. Ela também comandou a Delegacia de Repressão a Armas e Entorpecentes (Drae) e a delegacia em São Cristóvão.
Além de ligações com traficantes, a operação apura também envolvimento de policiais na segurança de pontos de jogos clandestinos e na venda de informações de investigações policiais para criminosos. Desvio de espólio de guerra --ou seja, material apreendido do tráfico, nas operações-- para venda posterior e imediata, a traficantes, também foi investigada.
Logística
Segundo nota divulgada nesta manhã pela PF, a operação policial iniciou a partir de vazamento de informação em uma operação policial que era conduzida pela delegacia de Polícia Federal em Macaé, denominada “Operação Paralelo 22”. O objetivo era prender o traficante conhecido como “Rupinol”, que atuava na favela da Rocinha junto com o traficante conhecido como “Nem”.
A partir daí, duas investigações paralelas foram iniciadas, uma da Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Segurança do Rio e outra da Superintendência da PF no Rio. A troca de informações entre os serviços de inteligência das duas instituições deu origem ao trabalho conjunto desta manhã.
Ao todo, além dos 380 agentes da PF, participam da operação 200 homens de segurança pública no Estado, além de dois helicópteros e quatro lanchas. Conforme Gioia, além de longa, a Operação Guilhotina ainda poderá render novos pedidos de prisão preventiva.
* Com informações de Janaina Garcia, do UOL Notícias em São Paulo, e Daniel Milazzo, Especial para o UOL Notícias no Rio de Janeiro
*Fonte http://noticias.uol.com.br/cotidiano/
Nenhum comentário:
Postar um comentário