Indústria brasileira sucumbe ao dólar e a invasão de importados da China
A desvalorização da moeda norte-americana e a consequente invasão de importados levam ao recuo de 1,3% na produção das fábricas
Correio Brasiliense
Com o emprego e a produção se recuperando lentamente, a contribuição da indústria para o Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2010 acabou ficando negativa. O recuo de 1,3% em relação aos três meses anteriores mostra o quanto o dólar barato e a consequente invasão de produtos importados foram prejudiciais para que a retomada fabril pós-crise econômica. “O país está aberto”, definiu o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, prevendo o crescimento das importações ao longo dos próximos anos. “Temos um problema de câmbio, uma defasagem importante, que faz com que seja fácil importar.”
Para o ministro, as compras no exterior têm como objetivo a modernização da indústria e o aumento da capacidade de produção, já que 70% do volume são de máquinas, equipamentos e insumos. “Não importamos bens de consumo, bonecas, brinquedos etc.”, afirmou. “As empresas estão se modernizando, aumentado a capacidade produtiva, e isso vem resultar em indústria melhor no país”.
Mas o setor produtivo criticou duramente o câmbio desfavorável. Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, o crescimento do PIB no terceiro trimestre ficou abaixo do esperado. “Essa redução do crescimento da indústria está ligada à importação de produtos manufaturados, de bens de consumo duráveis”, analisou. A seu ver, a queda no PIB industrial é um alerta para o país adotar medidas de curto prazo nas áreas de câmbio e de crédito e reduzir a carga tributária.
Arrancada
“O crescimento da demanda vem sendo atendido pelos importados. Isso é um efeito claro da taxa de câmbio valorizada, que barateia artificialmente o produto estrangeiro, prejudicando a produção e o emprego”, afirmou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). “O problema é que essa situação cambial pode comprometer o crescimento no próximo ano — uma questão que precisa ser corrigida pelo novo governo”, alertou Skaf.
Mas, no acumulado do ano até setembro, o crescimento industrial chega a 12,3% (R$ 223,6 bilhões), enquanto em relação a igual trimestre de 2009 foi de 8,3%. Um dado positivo é a arrancada da construção civil. No confronto dos terceiros trimestres deste ano e o de 2009, o salto foi de 9,6%. O resultado teve forte influência do crédito, que continua sendo ofertado em níveis elevados, e do aumento da ocupação. “Nós, da construção civil, não concordamos com o parâmetro usado pelo IBGE para avaliar o desempenho do setor”, reclamou José Carlos Martins, vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “Se o governo anuncia que vai acabar com o IPI reduzido, é natural que haja uma corrida às compras. O mesmo não acontece com o emprego.”
Apesar dos diferentes parâmetros, a CBIC acredita que a construção civil feche este ano com crescimento de até 12% e, no próximo, com expansão de 7%. (Colaborou Luciano Pires)
Agropecuária encolhe
Problemas climáticos foram a principal causa para o recuo da produção agropecuária no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o três meses imediatamente anteriores. A adversidade durante acolheita teve um efeito destruidor, suficiente para levar as riquezas do campo a um recuo de 1,5% em relação aos meses de abril, maio e junho. Em valores correntes, o Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário bateu em R$ 46,8 bilhões, marca distante da alcançada no período imediatamente anterior (R$ 53,9 bilhões).
Ao comparar os terceiros trimestres de 2009 e 2010, a agropecuária acumulou alta de 7% e, no acumulado do ano, uma expansão de 7,8%. Essas taxas foram sustentadas pelo avanço em quantidade e valor das safras de café, trigo, cana-de-açúcar e laranja. Ontem, o IBGE divulgou a segunda estimativa para da temporada de grãos 2011, que prevê uma colheita de 145,1 milhões de toneladas.
A projeção da Conab para a área plantada na safra 2010/2011 é recorde: 48 milhões de hectares, um crescimento de 1,3% em relação à anterior. Apesar disso, a safra nacional de grãos deve chegar a 149,1 milhões de toneladas, com queda de 0,1%, ou cerca de 200 mil toneladas, sobre a passada. A colheita de soja vai cair de 68,7 toneladas para 68,5 toneladas, influenciada pelo fenômeno La Niña, que provoca seca no verão nos estados do Sul.
Pressões
As preocupações com o setor de alimentos estão praticamente afastadas, segundo Silvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os produtos que impactam a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), como arroz, feijão, farinha, batata, tomate e carnes, estão com a produção regularizada e já com preços mais em conta que o observado no início de 2010. A tendência é de que pressionem mais o indicador, a menos que hajam problemas climáticos.
Com o intuito de evitar que desequilíbrios sazonais interfiram nos cálculos do IPCA, Porto defendeu da revisão da metodologia do índice de inflação. “Talvez devêssemos retirar alguns alimentos do cálculo ou atribuir menor peso a outros. É uma discussão interessante.” Na visão de Porto, os produtos devem ser analisados em separado. O problema com as carnes começou com a crise de 2008, quando foi reduzido o rebanho, por conta da queda nas exportações para a União Europeia. “No caso dos grãos, a situação é mais séria. Envolve a especulação financeira dos fundos, que acaba levando o preço das commodities às alturas”, disse.
Reação cambial
O dólar registrou ontem a maior alta frente ao real em um mês, superando o patamar de R$ 1,70 em meio à corrida dos investidores para encerrar posições depois que o governo avisou estar atento a movimentos especulativos no mercado de câmbio. A moeda norte-americana avançou 0,95% e fechou cotada a R$ 1,709 para venda, na maior valorização diária desde 8 de novembro, quando havia subido 1,13%.
*Fonte:http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=66884
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