segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mistério na morte de botos no rio Tocantins

O que está causando a morte de vários botos no rio Tocantins? A pergunta ainda é um mistério para integrantes do MEPA (Movimento Educacional pela Preservação da Amazônia) e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA), Campus de Marabá, que percorrem o leito do rio Tocantins toda semana desenvolvendo um trabalho de educação ambiental junto aos ribeirinhos.

Esta semana, segundo César Peres, presidente do MEPA, a equipe foi alertada por ribeirinhos que vivem na Praia do Meio sobre o cadáver de mais um boto que boiava no remanso daquela ilha. O animal estava em adiantado estado de putrefação e apresentava sinais de que havia sido vítima de tiros, provavelmente de espingarda. “Não é a primeira vez que isso acontece. Nas últimas semanas identificamos vários botos mortos em circunstâncias parecidas”, lamenta Peres.

Ele ressalva que a causa da morte do referido animal não pôde ainda ser determinada, embora levantou-se duas especulações, ambas atribuindo a responsabilidade aos pescadores: a primeira atribuía a morte do animal a tiros disparados por pescadores devido a sinais, semelhantes a marca de chumbo, visualizados no corpo dos botos; a segunda atribuía a causa da morte a ingestão de rede de pesca que podia ser observada na garganta do animal. “Pode haver uma terceira, ainda desconhecida. O fato é que o referido animal, inimigo dos pescadores por retirar os peixes das redes destes, às vezes destruindo-as, é morto e por não fazer parte da alimentação dos pescadores é deixado no rio”, lamenta.

Muitos desses mamíferos também estão sendo atacados por pescadores como se estivessem em uma guerra, utilizando bombas, algumas bastante pesadas. A reportagem do CORREIO DO TOCANTINS desceu o rio Tocantins e conversou com ribeirinhos e pescadores da região da Praia do Meio, que confirmaram e lamentaram a morte dos botos. Eles revelam que muitos colegas pescadores utilizam bombas de festim para espantar os animais e mantê-los longe de suas redes, porque este símbolo da Amazônia é visto por muitos pescadores como uma praga. “Ele estraga as redes, come e espanta os peixes”, reclama Raimundo Martins, 65. “Eu jogo bomba para deixar eles longe da malhadeira, mas não mato não”, confessa.

Os pesquisadores têm documentado as mortes, na tentativa de chamar a atenção para o problema. Também procuram conversar com os pescadores e ribeirinhos, de modo a orientá-los a manter a fonte de renda, sem matar os botos. “Esses mamíferos têm uma audição muito aguçada e podem perder esse sentido com as explosões”, observa Peres.

O agrônomo Juscelino Bezerra, da UFPA, que trabalha como voluntário no projeto de proteção às tartarugas nas margens do Tocantins, também se diz preocupado com a quantidade de botos que estão sendo encontrados mortos no rio. “Somos parceiros dos pescadores e ribeirinhos, não inimigos. Trabalhamos com a orientação, não com repressão”, observa, dizendo que é preciso desenvolver um trabalho amplo e específico nesta área para manter a população de botos.

Para Juscelino, os botos não deveriam ser vistos como inimigos dos pescadores, uma vez que os animais ajudam a retirar os peixes de lugares de difícil acesso para locais mais acessíveis. “Vamos conversar com representantes de colônias de pescadores da região para realizarmos um trabalho junto aos pescadores para orientar a categoria a como se comportar de forma harmônica com os botos”, explica César Peres.

Ele ressalta que várias espécies já estão em processo de extinção e diz que Cuiucuiu e Arraia são fisgados por pescadores, mas abandonados mortos às margens do rio. Isso porque essas espécies não têm valor comercial na região. (Ulisses Pompeu)

*Fonte: www.ctonline.com.br

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