segunda-feira, 21 de março de 2011

Renda das pessoas com mais de 60 anos cresceu 76% desde 1992

Renda das pessoas com mais de 60 anos cresceu 76% desde 1992

As empresas instaladas no Brasil nunca prestaram tanta atenção nos idosos como hoje. Não é para menos. De 1992 a 2010, o total de pessoas com mais de 60 anos quase dobrou, saindo de 11,5 milhões para 21,5 milhões. Nesses 18 anos, a renda média mensal desse público saltou de R$ 660 para R$1.092 — um avanço de 76% ante os 62% registrados na média nacional. Atualmente, 82% dos idosos estão nas classes A, B e C e 66% deles integram o que se convencionou chamar de nova classe média. Os dados foram cruzados pelo coordenador do Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marcelo Neri.

Sim, os idosos do início do século 21 têm mais dinheiro no bolso e amplo acesso ao crédito. Compram, viajam, vão ao cinema, frequentam clubes da terceira idade, ajudam a família, namoram, casam-se outra vez e têm uma saúde muito melhor do que no fim dos anos 1990. Movimentam ao ano R$ 234,3 bilhões, mais de 10% do consumo total do país. Há exatamente 100 anos, em 1911, o brasileiro gastava 70% da sua vida trabalhando. Hoje, o tempo na labuta não chega a 50%, considerando a expectativa de vida de 74 anos segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ou seja: a situação pode não ser a ideal, mas os idosos de hoje estão com muito mais tempo livre para consumir. O problema é sustentar e ampliar esses ganhos para as futuras gerações.

“Pessoas acima de 60 anos foram o segmento da população que mais conseguiu conquistas nos últimos anos. Se eu precisasse contratar um grupo da sociedade brasileira para defender os meus direitos, contrataria os idosos”, brinca Marcelo Neri. Pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), entre 2003 e 2009, quando a nova classe média despontou no horizonte, a renda média real per capita do brasileiro — descontada a inflação e o crescimento populacional — cresceu 4,7% ao ano. Enquanto isso, os aposentados que recebem o piso da Previdência Social tiveram acréscimo de 7,4% ao ano em seus rendimentos e aqueles que recebem acima do salário mínimo registraram ganho anual de 4,25%. “Nestes seis anos, a renda de aposentadoria e de pensões foi responsável por 21% do aumento do bolo dos rendimentos no Brasil.”

Mas esse crescimento não é sustentável indefinidamente, alerta o coordenador do CPS. A partir de 2024, a população brasileira em idade ativa vai começar a cair. Isso significa que haverá menos gente no mercado de trabalho e menor volume de contribuição para a Previdência. Some-se a isso o aumento da expectativa de vida no país, hoje de 74 anos, e em 2024, de 77.

Em menos de duas décadas, a população brasileira acima de 60 anos crescerá quase 40%. A expectativa é que, em 2030, esse contingente some 30 milhões. A grande pergunta passa a ser a sustentabilidade da Previdência, que, neste ano, tem deficit previsto de R$ 61 bilhões. “Para que a longevidade da população se sustente, é preciso haver uma reorganização da Previdência”, aponta Melissa Folmamm, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP).

Aposentada há mais de 20 anos, Maria da Purificação Sepúlveda, 72 anos, é um ótimo exemplo da boa forma do brasileiro. Ela desempenha atividades com que não poderia sonhar durante sua vida produtiva, quando dividia o tempo como professora e mãe de quatro filhos. Hoje, só uma coisa não mudou em sua rotina: continua não tendo tempo livre. Avó de oito netos, ela viaja pelo país e, uma vez ao ano, visita a filha na Europa. “A Alemanha é meu ponto de partida”, diz.

Com uma percepção aguçada do mercado, Maria considera que, hoje, faltam serviços mais especializados para atender os idosos que vivem sozinhos, desde alimentos nos supermercados até atendimento especializado em agências de viagens. “Com o envelhecimento da população, as pessoas vão se aposentar mais tarde”, atesta. “Cada vez mais, os casais têm menos filhos, porque a mulher tem menos tempo. O governo deveria lançar programas para estimular a ampliação das famílias, assim o desequilíbrio não seria tão grande e teríamos mais contribuições para a Previdência Social.” A última Pnad revela que a média nacional é de 1,8 filho por família.

Propostas

Na avaliação de especialistas, o caminho para desembaraçar o nó do envelhecimento com saúde é criar uma fórmula que ajuste tempo e idade, de modo que a população que vive mais tempo se aposente mais velha. A ideia inclui propostas polêmicas, como a soma, entre tempo de contribuição e trabalho, de 85 anos para mulheres e 95 anos para homens. Eles argumentam que artifícios assim deverão entrar em jogo porque o orçamento da Previdência hoje alimenta não só a seguridade social, mas também o Sistema Único de Saúde (SUS) e a assistência social.



*Fonte:http://www.oimparcialonline.com.br/noticias.php?id=75571

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