quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A POÉTICA DE VINÍCIUS DE MORAES



Vinícius de Moraes, nasce no dia 19 de outubro, na Rua Lopes Quintas nº 114, no bairro do Jardim Botânico, na cidade do Rio de Janeiro, o “poetinha”, como ficou conhecido, era na verdade um grande poeta, um dos melhores que tivemos nos últimos anos, adotou o substantivo como adjetivo para se fazer mais próximo das coisas do povo, do mundo mundano. Com a modéstia do apelido, procurava estar no nível do cidadão mediano, sua elevada cultura, sua carreira de diplomata, abriu passagem para o samba, para poesia fácil, para a boêmia, bossa nova, uísque e as mulheres. Vinícius no seu “Samba da benção”, tasca desde logo o que lhe inspira na vida:

“É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração...”
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
E presta reverência à tristeza do homem simples, do negro, dos que foram escravos, como tempero para alegria, farra e festa do povo brasileiro:

“Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes
Poeta e diplomata
O branco mais preto do Brasil
Na linha direta de Xangô, saravá!”
Ao final nos brinda com a assertiva funda e penetrante sobre a vida:

“A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida”
Para o poeta, o uísque era o cachorro engarrafado, o melhor amigo do homem. Eram companheiros inseparáveis: a garrafa, o copo, para sorver um bom uísque e o cigarro como que a tragar sonhos e delírios e expirar versos. Os sonetos foram sua marca registrada, a maioria dos apaixonados, dos enamorados e dos sedutores, preferem ou já recitaram no “soneto de fidelidade” com empolgação o seu fecho: “Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama; Mas que seja infinito enquanto dure.” Eu da minha parte prefiro o “soneto da separação”, talvez porque mais próximo da vida como ela é:

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
Para concluir, um longo poema, um épico, uma fantástica homenagem aos operários brasileiros, em uma fase onde a luta política e o engajamento pelas causas sociais davam o tom nos bares, botecos e nas ruas, escreveu Vinícius:
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.
E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.
Neste ano, quando faria 100 anos, sinto a falta do Vinícius de Moraes entre nós, e, com mais rigor a falta de poetas com a sua envergadura intelectual e sinceridade poética.






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