"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
"Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."
(Palavras de José Saramago, na apresentação pública do seu “Ensaio sobre a Cegueira”).
Fala-se muito do exército de miseráveis que inunda nosso país, estas figuras esquálidas e maltrapilhas estão cotidianamente agredindo nossas retinas no campo e nas cidades. Invadem as ruas, igrejas, restaurantes, lanchonetes e outros lugares de grande circulação mendigando um pouco de comida. As crianças povoam os semáforos implorando uma moeda, por vezes se contentariam com um gesto de educação, um sorriso, um bom tratamento.
Nesse ambiente os desvalidos estão prontos para exercer seu direito ao voto em troca de uma camisa, uns trocados, um pote, um filtro, o aviamento de uma receita médica ou mesmo pela ilusão de promessas fugidias de uma vida melhor. É um raro momento de êxtase, os miseráveis se vêem repentinamente lembrados e, como que obra de um artifício mágico, se acham de vez disputados por todos.
Uma amnésia aguda acomete aqueles que votam de tempos em tempos e nas próximas eleições já não lembram em quem escolheram para Vereador, Prefeito, Deputado, Senador, Governador ou mesmo Presidente da República. Eis os primeiros culpados, pois é do voto, do exercício responsável na política, de onde podem vir soluções para os problemas da política.
Diz-se pouco, entretanto, da origem disso tudo. No nosso caso a indigência econômica, deriva principalmente da pobreza da política. Os eleitos, que receberam os votos dos que vão esquecer em quem votaram serão também acometidos da amnésia de esquecer as promessas feitas nas campanhas eleitorais. De onde então, pode vir o dever de lembrar os políticos dos seus compromissos assumidos?
A resposta deveria vir primeiramente da sociedade civil organizada, da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, ABI – Associação Brasileira de Imprensa, da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos, e veio. Veio de uma forma singela oferecida pela iniciativa popular de lei prevista na Constituição da República. A Lei da ficha limpa, contra os fichas sujas, políticos sujos que vivem da política. O TSE carimbou a essência do ato normativo.
Poderia vir da imprensa, da mídia, mas parece que estão todos comprometidos ou então tomaram partido na luta política. Esqueceram assim, também o compromisso com a notícia, com a verdade jornalística que exige checar fontes; ouvir os diversos lados envolvidos; e, se não a neutralidade, porque não a opção pela isenção. A Imprensa tem donos.
Abro os jornais, a internet, ligo os rádios e a televisão e não encontro respostas contra a miséria da política. Só entrevejo exageros, linchamentos públicos, achincalhamento de toda ordem, assistimos à sociedade do espetáculo. Cabe por último aos intelectuais, poetas e artistas, sem niilismo, com uma boa dose de humor e outra de seriedade, por compromisso com a nação colocar o dedo na ferida.
Urge que haja resistência! Vamos renovar a política na Política! Não vamos votar nos velhos de corpo ou de espírito. Vamos todos dizer não aos que se reelegem sistematicamente na esquerda e na direita. Vamos dizer não a corrupção, ao fisiologismo, mas também ao personalismo e ao carreirismo. Vamos dizer não ao troca-troca de partidos políticos, que só querem cargos, empregos e dinheiro público. Por que tantos “não”? Porque precisamos fortalecer e dizer sim a DEMOCRACIA.
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