Somos desafiados a optar constantemente. As escolhas mais fundamentais que ditam os rumos de nossa própria existência demandam invariavelmente dúvidas, impasses, incertezas e sérias reflexões. Para quem sobrevive da palavra, quer seja como poeta, político, advogado ou professor, a escolha entre ciência e política ou entre poesia e política, vem quase sempre embalada por uma disputa argumentativa interior que embasará a decisão, e este processo adquire, de tempos em tempos, contornos dramáticos.
A conquista de espaços, o preço da vitória ou da derrota, a busca da felicidade, exigem sacrifícios que nem sempre contentarão a todos. Fernando Pessoa demonstra uma aguda percepção sobre isso, traduzida em poesia fina e aguda, a respeito do preço de grandes atos e gestos das pessoas, conseguindo explicar bem melhor que qualquer homem público ou aqueles que atuam no território das ciências o que está verdadeiramente em jogo:
“Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!”
No Maranhão, o já pantanoso terreno da política está a exigir nos dias de hoje entre nós, uma outra forma de olhar, mais crítico é certo, porém mais generoso e com os olhos postos no futuro. A guerra de todos contra todos produz vítimas que ultrapassam as pessoas diretamente envolvidas nos conflitos. Pensando desse modo, enxergo certas irracionalidades nos acontecimentos políticos em curso no nosso Maranhão bom e velho cansado de guerra.
Parece que há uma guerra deflagrada. Fala-se por aí que existem jornalistas, assessores e políticos afirmando que guerra é Guerra! E campanha política é lama. Tudo bem. Mas mesmo as guerras possuem regras. Os prisioneiros têm direitos e os vencidos não podem ser massacrados. Quem vence não tripudia.
A Política tem a tarefa de construir e manter pontes, de produzir canais de interlocução mantendo-os sempre abertos. Os vencidos sempre terão razões a serem consideradas. O diálogo é um caminho difícil, mas deixa os espíritos democráticos mais livres e arejados. Eis-nos assim, diante da vitória da civilidade, do entendimento e da democracia. O poeta lusitano entendeu perfeitamente o êxito dos grandes gestos:
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Um Estado pobre como o nosso Maranhão, com esse nível de pendengas políticas, parece que ainda terá muito mais o que perder. Talvez entre a poesia e a política a salvação não esteja na terra dos homens pequenos, mas no mar, no céu, nas estrelas e no amor, ingredientes que fazem a boa poesia dos mais sensíveis. E assim entre a política fratricida e a poesia, me restou como opção o lado mais digno e generoso dos versos e das rimas.
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